Queria poder escrever como sempre escrevi. Quando as palavras fluiam facilmente e eu me perdia entre páginas e páginas de rascunhos de cartas de amor. E hoje, fico parada, fitando as poucas palavras que consegui passar para o papel, e me perco dentro delas, dentro de mim. Não sei quando foi que deixei isso acontecer, escrever era a única coisa no mundo que me fazia sentir melhor tudo estava desmoronando. E hoje, aqui estou, tentando transcrever o que eu sinto, sem nem mesmo saber o que é, e se é alguma coisa, ou se não é apenas esse vazio perturbador que resolveu me habitar há algumas semanas atrás. Já não posso nem mesmo me chamar de bagunça, porque quando há bagunça, sempre há como conseguir arrumar, de alguma maneira, de várias maneiras. E eu sinto como se não saísse do lugar. Parece que estou parada há muito tempo nesse lugar, e eu ainda ensisto em olhar para trás, vendo uma imagem borrada, acho que era o que eu era antes, o que eu sentia, como eu me sentia para ser franca
Com todas minhas forças tento olhar para trás e me perder em meus pensamentos, me entorpecendo lá dentro, para me sentir melhor, talvez segura. E no começo funcionava. Eu conseguia sentir você e parecia tão real... e hoje não passa de apenas imagens embaçadas, e no meio do embaço surge seus olhos, queimando em fúria, e são eles que me atormentam minhas madrugadas. Em meus sonhos, eu corro em sua direção, e agora, eu te observo apenas diante de uma barreia de vidro, que não impede, mas pára.